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6 de maio de 2014

Textinho que escrevi dia desses por aí.

Do beijo eu não esqueci

Meu primeiro beijo aconteceu horas antes do meu primeiro beijo acontecer. Sei que pode parecer um pouco confuso. Mas tudo relacionado a sexo sempre foi confuso pra mim. E o meu primeiro beijo não poderia ser diferente.
Lembra de uma brincadeira chamada "salada mista"? Dizem que a maioria dos primeiros beijos saíram dessa brincadeira. o meu sairia, se não fosse o treino que tive com a minha melhor amiga pouco antes do garoto de olhos vendados escolher salada mista com o dedo apontado pra mim. A gente chamava ele de "Baby". Eu não me lembro do rosto dele, alias, eu nem me lembro dele. só sei que eu queria muito beijar a boca dele.
Baby era popular, divertido, inteligente, e todas as garotas da escola queriam ficar com ele. Naquele tempo eu adorava entrar em disputas. Mas eu não queria passar vergonha na hora do beijo. eu dizia pra todo mundo que já sabia beijar. Claro que eu não sabia. Eu não sabia o quanto eu devia abrir a boca, e se eu devia deixar os lábios molhados ou secos... E que diabos eu ia fazer com a língua? eu pensava: Enfio na boca do moleque, ou escondo. Dou lambidas, ou chupadas? E o que eu vou dizer pra ele quando a gente parar de se beijar? Céus. Como é difícil ter treze anos.
Baby tinha me chamado pra brincadeira. Eles se encontravam no escadão perto da escola todas as tardes. Se eu não aparecesse eles iam pensar que eu era uma idiota mentirosa que não sabia beijar. E quando se tem treze anos não é muito bom ter uma reputação ruim na escola. Ainda mais quando a escola é pública. Então eu disse pra minha melhor amiga que eu tinha que aprender beijar de um jeito ou de outro. Ela também tinha que aprender. também havia sido convidada pra participar da brincadeira.
Chupamos laranjas, e mangas, depois ficamos treinando na mão, e tentamos o espelho, e a única certeza que eu tinha é que os olhos deviam ficar fechados. Então eu disse a ela: "Vamos tentar nós duas".
Juramos segredo e seguramos a mão uma da outra. Ela tocou no meu rosto. Eu ajeitei os cabelos dela pra trás. Aproximamos nossos rostos olhando uma pra outra, e fechamos nossos olhos quando nossos lábios se tocaram.
Foi melhor do que chupar laranja e manga. Melhor do que beijar a mão. E muito melhor do que o espelho. Foi a primeira vez que eu tive uma sensação daquelas. talvez a melhor das sensações que tive. Quando a minha boca tocou na dela, a gente já sabia o que fazer com a língua, e nossas bocas ficaram molhadas o suficiente, e dançavam no mesmo ritmo, e a gente já sabia tudo o que tinha que fazer. Foi tudo tão natural, tão inocente, ouso dizer que foi puro.
Demoramos pra parar. Ou não. Não me lembro a quantidade de tempo que ficamos nos beijando. Me lembro do gosto. Do barulho. Da mão dela no meu rosto. Do cabelo dela entre os meus dedos. É. Acho que demoramos pra parar.
Chegamos seguras para a brincadeira. Não demorou para eu ser escolhida por ele. Baby e eu nos beijamos em um canto escuro do escadão. Sem dúvida o beijo dele era diferente do dela. Era mais quente. mais rápido também. Baby não era carinhoso como ela, mais era bom. Ele era mais agressivo. E tentava pegar nos meus peitos mas não pegava, e ameaçava passar a mão na minha bunda mas não passava, e ficava com aquelas mãos cheias de dúvidas em cima de mim, e eu com medo que ele pegasse nos meus peitos, afinal, eram apenas pedrinhas sensíveis ao toque, e aquele medo da dor tirou a minha concentração, e quando ele tomou coragem e pegou... Eu mordi a boca dele e saí correndo do cantinho escuro com o gosto do sangue dele em mim.
Quando fomos embora minha amiga disse que o garoto que ela beijou enfiou a mão dentro da calcinha dela. Eu não soube o que dizer. Não tinha ideia do que ele procurava lá. Mas ia adorar se Baby fizesse o mesmo ao invés de meter a mão nas minhas pedrinhas doloridas.
Eu dormi aquela noite com gosto de sangue na boca. Na minha cabeça desinformada eu estava apaixonada por Baby. Até esqueci que o meu primeiro beijo não havia sido com ele.
Baby me beijou outras vezes. Mas nunca mais pegou nos meus peitos. E também nunca tentou procurar nada dentro da minha calcinha. Minha paixão por ele não durou muito. Eu me mudei daquele bairro com uns quinze anos. Naquele lugar beijei Baby e outros garotos iguais a ele que ainda não sabiam o que fazer com seus pintinhos.
Uma vez pensei em pedir pra minha melhor amiga me mostrar como era que o garoto procurava algo na calcinha dela. Ela falava que era uma sensação estranha, boa, quase viciante. Ele procurava alguma coisa na calcinha dela e ela na cueca dele, e assim eles namoravam todas as tardes no escadão.
Todas as vezes que eu beijava algum garoto parecia que tinha alguma coisa na minha calcinha fazendo cócegas em mim. Eu ficava louca pra alguém procurar o que fazia tantas cócegas mas nenhum deles nunca procurou nada lá.
Eu me mudei.
Nunca mais os vi.
Nem eles.
E nem ela.
Ela.
Eu nem me lembro o nome dela.