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23 de junho de 2013

Protestos em São Paulo. milhares e milhares de pessoas nas ruas. notícias no brasil e no mundo, e ninguém falou, nem nunca vai falar sobre José.

O José da Silva também apareceu lá no protesto. ele disse que tava bonito ver todo aquele povo lutando por um país melhor. disse também que morava pra lá de guaianazes, e que sua esposa estava acamada devido a um câncer maligno. sua filha de três anos assiste a mãe morrer enquanto ele trabalha como ajudante de pedreiro. Ele voltava com a marmita ainda cheia pra casa. disse que não havia recebido a paga do dia então deixou de almoçar pra sua filha ter o que comer antes de dormir.
José sumiu na multidão. no dia seguinte eu o vi na tv. ele chorava e pedia perdão pelo que fez. ao seu lado tinha um triciclo elétrico cor de rosa, suas mãos estavam algemadas pra traz. não falaram muito dele. o foco estava em um estudante de arquitetura. fiquei pensando na filha dele. com fome, assistindo a mãe morrer, e sem a moto rosa que seu pai havia acabado de roubar. pobre menina. pobre José.

vai ficar puto comigo só porque eu não prestei atenção no assunto? 
tá bom vai
você fala um pouco de merda as vezes 
mais sua boca faz isso tão bem 
e eu adoro o movimento que ela faz quando você fala
e o balanço da sua língua quando você molha seus lábios pra terminar a frase
e que se foda o assunto
é sempre tão vil

desculpa baby
mais notícias de rede social
de jornal nacional
e nova formação da banda capital inicial
não vai me convencer a sexo nenhum

não fica putinho, não
sua língua tem toda a minha atenção.





13 de junho de 2013

Aos namorados.

Só lhe peço que não me traga flores. é que não gosto do cheiro delas. também não gosto dos espinhos, e quer saber, não é nada romântico matar flores e ficar assistindo elas murcharem dentro de um vaso de porcelana barato. 
Você sabe que não ligo pra chocolates, não gosto muito de perfumes, ursinhos de pelúcia não são bons presentes pra fumantes e por favor, cestas de café da manhã só depois das 14 horas.
Então faz assim, vem com as mãos vazias e a gente vê o que faz com elas.

11 de junho de 2013

Oi! Tudo jóia? faz tempo né? tenho tanta coisa pra contar. vou começar por essa:

E não é que tinha um buraquinho na cortina. por ele dava pra ver que o teatro estava cheio. Na coxia, todo aquele frio em todas aquelas barrigas me congelava, e me dei conta que não estava sentindo as minhas pernas. e sem que eu pudesse fazer nada, as cortinas se abriram. foi quando eu apaguei. 
Acordei com os aplausos. 
Eu não fui a personagem principal, não fui a mais engraçada, nem a mais bonita, aliás sou uma péssima atriz, que fique claro. mais aqueles aplausos a revelia era o único som que eu queria ouvir pra sempre.
Não durou muito e todos começaram sair. o teatro silenciou e fiquei sozinha ali no palco. eu não tinha ninguém pra abraçar lá fora, não conhecia ninguém daquela platéia, eu não sabia como me comportar no meio daquela multidão, eu não queria estar no meio deles. então fiquei ali no palco. sozinha. do mesmo jeito que eu estava quando escrevi aquela estória. aquela que acabara de ser contada ali naquele palco.
Quando o eco dos aplausos se calaram, eu fui embora. eu devo ter parado em algum boteco e me embriagado, tenho a impressão de ter sido parada pela polícia, não, isso deve ter sido outra noite, eu acho que deitei no chão de um estacionamento com uma garrafa de cerveja na mão, que merda!! minha bota está cheia de tinta.
não importa. ainda escuto os aplausos quando fecho meus olhos.
"É claro que tudo isso é piração sua. nada disso aconteceu. Tá esquecendo que você é maluca?"
Será? mais minhas botas estão sujas de tinta.
"E daí? pisar na tinta é tão comum quanto pisar na merda."

Eu corri até o teatro e subi no palco. um silêncio absoluto reclamava da minha respiração. vasculhei toda a cortina atrás de um buraquinho, e ele estava lá. na coxia ainda tinha ecos de um brinde com as personagens da estória contada. é claro que tudo foi verdade. eu comecei sacar a minha consciência. ela sempre dá dessas. ela queria me lembrar da platéia...

... lembrei que a platéia estava cheia. mais eu não conhecia ninguém que estava lá. na verdade os únicos que eu conhecia ali naquele teatro, eram as personagens daquela estória. eu juro que as vi com vida aquela noite. e quando eu fecho meus olhos no silêncio, ainda consigo escutar os aplausos.

A mágica vai acontecer só mais uma vez. e vale a pena assistir. eu adoraria te ver na platéia.
Será no dia 15 de junho no teatro ETA - Estúdio de Treinamento Artístico, Rua Major Diogo, 547. Bela Vista, São Paulo (travessa da Av. Brigadeiro Luiz Antonio) ás 21h30.
Ingresso: R$15,00.

bjs.