Páginas

31 de agosto de 2012

Eu não sei sair daqui de dentro

Tudo é tão escuro quando estamos sozinhos, tão frio, sem cheiro, sem som, sem nada.
já passei minha mão por toda a parede e não encontrei a porta
eu não sei sair daqui de dentro
fiquei muda de tanto gritar

esqueci como é o meu rosto e sinto uma lâmina cravada no meu peito
ela impede que todo o meu sangue saia de uma vez só
sinto as gotas de sangue caírem no meu pé
uma a uma

eu já nem me preocupo mais com todo esse sangue perdido
preciso achar a porta e fugir daqui
é tudo tão escuro
é tudo tão incerto
eu não quero mais ouvir todo esse silêncio
eu não quero mais sentir frio
eu preciso sentir alguma coisa além dessa dor no peito
nem que seja um cheiro
nem que seja um gosto
nem que seja medo.

eu construí essas paredes em minha volta
e esqueci onde coloquei a porta
deixei meu sangue vazar pelo corte da lâmina
fiquei sozinha
no frio
no silêncio
no vazio.

quero sair daqui
eu não aguento mais todo esse silêncio
quero sentir outra coisa além de dor
talvez um porre
uma decepção
um gozo
qualquer coisa

É tudo tão escuro aqui
eu preciso encontrar a porta
e arrancar essa lâmina daqui de dentro
e dizer baixinho com a pouca voz que me sobra

" Eu sei que sujei. Mais vou tentar limpar. Nem que eu suje mais. Nem que eu quebre o vidro na mão. Eu vou juntar todos os cacos. Eu vou limpar todo o sangue. Eu vou abraçar toda a dor. Eu não tenho mais medo, eu conheço a dor da lâmina encravada no peito quando estamos sozinhos no quarto escuro. Foi eu que quis entrar aqui eu sei. Mais não foi eu quem enfiou essa maldita lâmina no meu peito."



28 de agosto de 2012

A luxúria é um pecado difícil de recusar

Eu queria tanto que você voltasse no dia seguinte que nem gozei aquela noite
seu gosto nunca mais saiu da minha língua
e ainda sinto o peso do seu corpo
a minha cama fica tão vazia sem você
tão fria
tão quieta
vem cá 

A luxúria é um pecado que todo mundo comete em segredo
a luxúria é um pecado difícil de recusar
se eu for pro inferno quero ter cometido o pecado com você

Se deixar dominar pela paixão não pode ser um pecado tão grave
te amar é tão bom
e você gosta
e a gente faz tão bem
e é tão bom te ouvir gemer

Vamos todos pro inferno
a luxúria é um pecado que todos perpetram
não vou deixar minha vida vã 
se eu vou queimar no fogo eterno que seja
não dá mais pra me salvar
já gozei o suficiente pra isso

Meu amor vem sentir prazer comigo
vamos gozar de toda essa carne antes que ela apodreça
não adianta
você não vai conseguir fugir do chifrudo
eu estava junto quando você cometeu o pecado
está condenado a queimar no inferno por ter desejado minha carne
por ter me levado a loucura com seus dedos
e com sua língua
e com seus suspiros
e com tudo seu

Minha cama fica tão vazia sem você

Vem pro inferno comigo
a luxúria é um pecado que todo mundo comete em segredo
eu juro que não conto pra ninguém seus desejos sórdidos
eu só não quero ir pro inferno sem você

26 de agosto de 2012

Preciso ter cuidado com a dor

A lua me fez sentir o cheiro do passado, o barulho do mar cantava pra mim, o vento secava minhas lágrimas parecendo se importar com a minha dor.
Eu tava tão sozinha.
A praia parecia que estava sumindo, e o mar ficava cada vez maior, e tudo era tão pouco, e as pessoas não existiam mais, eu escutava um silêncio tão alto que não me deixava ouvir as ondas do mar. Aquela areia toda foi sumindo. sumindo. em minha volta só ficou o mar, eu nunca vi o mar tão calmo, sem ondas, sem barulho, como se o tempo tivesse parado. não existia mais nada, só o mar completamente parado, como um espelho preto refletindo a Lua, nem as estrelas estavam lá, eu já nem sabia mais se a lua estava no céu ou no mar.
O vento soprava meu rosto e cantava pra mim, eu disse baixinho que tinha saudade, e que eu choro em baixo do chuveiro pra ninguém ver, e que seus olhos choram pra mim quando penso em você, e que eu queria sentir seu abraço de novo, eu disse baixinho que tinha medo, eu disse que te amo tanto, eu falei tão baixinho, tão sincero, estava doendo tanto...
Aquela dor era tão mais forte do que eu, ela me empurrava para o mar, ela queria ver meus pulmões se encherem com aquela água salgada daquele mar preto e sem ondas, ela queria me ver morrer naquele mar calmo, ela queria ver meu corpo apodrecer naquela água fria. eu morreria ali, sozinha, no silêncio, sem ter a chance de dizer o que faltou, sem ter a chance de abraçar pela última vez todos que eu amo, aquela dor me empurrou para o mar, era tudo tão escuro, tão frio, e a lua já não estava mais lá, e meu corpo parecia não ser mais meu. aquela dor queria me matar.
O gosto do sal já estava na minha boca e a morte tocou em mim e você começou ficar cada vez mais longe, e seus olhos me pediam pra não ir, e eu já estava sentindo o livro fechar, e eu te amo tanto...

Eu vi você lá no fundo do mar preto. você sorria pra mim e me pedia pra ficar. Respirei fundo, abri meus olhos, e vi que ainda estava sentada na areia, e a lua ainda me fazia sentir o cheiro do passado, e eu te amava ainda mais. a dor que eu sentia estava mais amena e não tinha mais forças pra me empurrar para o mar. Você me salvou. Aquela dor queria me matar afogada no mar preto da saudade, mais você não deixou ela me levar, você me ouviu no meio de todo aquele silêncio, você me ouviu te chamar baixinho, eu sei, você também sabe, essa dor não vai me impedir de sentir de novo o seu abraço.

As vezes a lua me faz sentir o cheiro do passado. Quando me sinto sozinha eu deixo o vento secar minhas lágrimas. Minha dor já tentou me matar algumas vezes, mais eu sei o que fazer quando ela me empurra pro fim.



Seu cheiro é que me fode

Eu devia ter queimado aqueles lençóis 
seu cheiro fode comigo todas as noites.
seu beijo ainda me beija
sinto sua língua
sinto o calor da sua mão aquecendo e arrepiando minha pele
ainda ouço sua voz 
sinto o quente da sua respiração no meu pescoço
sua mão na minha cintura

Seu cheiro fode comigo
eu devia ter trocado os lençóis quando você se foi
se eu pudesse voltar atrás
eu beijaria sua boca com mais sede
me aproveitaria mais da sua língua
e dos seus dedos, e das suas mãos

Se eu pudesse voltar atrás
eu chuparia seu pau por mais tempo
me sucumbiria a sua porra

Se eu pudesse voltar atrás
não ouviria uma só palavra que você me disse
sentiria sua respiração no meu pescoço sem prestar atenção em nada
só no calor da sua respiração e na sua mão segurando minha cintura.
eu devia ter gozado mais vezes aquela noite

Que merda!
eu devia ter queimado aqueles lençóis

Não devia ter dormido abraçada com seu cheiro depois que você saiu
seu cheiro confundiu tudo
seu cheiro é que me fode.


2 de agosto de 2012

Minha avó.

Minha avó adorava viajar. a mala dela sempre estava pronta, e quando penso nela é disso que eu lembro, das malas prontas.
Eu tinha uns sete anos quando ela morreu. lembro que aos domingos íamos (meu pai e eu) visitá-la em uma casa de velhinhos. meu pai parava em uma padaria de esquina e comprava um pão sovado pra acompanhar os chazinhos em xícaras de porcelana que ela preparava pra nós. e na hora de ir ela sempre me dava um presente. uma boneca de pano. ela mesmo que costurava o corpo da boneca, e enchia de retalhos, e pregava botões azuis no lugar dos olhos, e bordava a boca com linha vermelha, e colocava cabelos de crochê, e até fazia vestidinhos com pedaços de anáguas e laços de juta. quando ela morreu minhas bonecas pararam de sorrir e começaram fazer meu pai chorar, não demorou muito e elas deram lugar pra um grande vazio, nunca mais as vi. eu gostaria de lembrar mais da minha avó.
Espremendo minha memória consigo vê-la sentada em uma cadeira de vime fazendo tricô. vejo também ela me ajudando vestir a calcinha no chuveirão de uma praia, acho que ela foi minha mãe por um tempo. tenho um clarão na memória entre minha mãe ir embora e a morte da minha avó.
Hoje fui comprar um maço de cigarros e no caminho passou por mim uma menina de mais ou menos sete anos com uma boneca de pano nas mãos, ela sorriu pra mim e continuou andando, não tinha ninguém com ela, nem mãe, nem avó, ela estava sozinha. por um momento imaginei ter cruzado comigo mesmo, então olhei pra traz e ela já não estava mais lá. deve ter sido só minha imaginação, ou, ela apenas dobrou a esquina, sei lá. prefiro pensar que cruzei com meu passado na rua, e que aquela era a boneca mais linda que minha avó já fez.
Cheguei em casa, abri a janela, acendi um cigarro e fiquei olhando o nada. lá estava minha avó sentada em uma cadeira de vime, ela vestia um chambre azul e  fazia uma boneca de pano pra mim.
Eu não lembro muito da minha avó. nem sei se chorei quando ela morreu. só sei que dormia abraçada com as bonecas de pano que ela fazia pra mim. sinto saudades daqueles domingos.