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12 de janeiro de 2013

Não sei o que eu quero. Só não quero ser igual a você


Quando eu tinha uns seis ou sete anos minha professora me pediu pra fazer um desenho. Eu desenhei uma árvore com frutas de todas as cores entre um céu com um sol bem amarelo e nuvens brancas espalhadas por todos os lugares. Levei o desenho pra minha professora como se fosse uma tela de Picasso, achei que eu era uma artista precoce, uma revelação, ou coisa do tipo. Mais não. Ela disse que uma árvore não podia voar entre as nuvens, e que meu desenho precisava de um chão. Eu voltei pra minha carteira e desenhei duas asas na árvore.
Aquele dia eu descobri o quanto as pessoas são iguais, e aprendi o quanto é triste olhar sempre do mesmo jeito pra tudo. Esperar como a figurinista da novela das oito vai vestir a protagonista pra saber qual vai ser a moda da estação, assistir a tv aberta aos domingos pra decorar a letra daquela musica que todo mundo ouve no carro do muleque piranha, e no buteco da esquina, e no carro da pamonha, e nos mp3 sem phones da "galera" nas ruas, metrôs, ônibus... Que inferno! Por que todos eles gostam das mesmas coisas?
Pessoas como a minha professora dizem palavras decoradas mesmo quando elas já não tem mais sentido. Compram livro com cinquenta tons de cinza sem saber do que se trata só porque é cool, comem peixe cru disfarçando a náusea socialmente, se casam e fingem felicidade nas redes sociais,  dizem bom dia aos inimigos, fodem com os amigos, esquecem da família o ano inteiro só pra ter assunto na ceia de natal, tomam porre pra deixar a vida menos desgraçada, viajam fim de ano pra ter do que reclamar, estudam para o vestibular sonhando com um canudo vazio... tudo igual, gerações e gerações de pessoas iguais.
Até hoje não descobri o que quero, já mudei de ideia muitas vezes. Tomei porrada, senti dores esquisitas que a medicina não explica, chorei sem saber o por que, fui embora, voltei, me arrependi, subi, desci, fui filha da puta, apanhei na cara, chorei, caí no chão, levantei, chorei de novo, quase pulei, e estou aqui, ainda sem saber o que quero.
Dizem por aí que eu não sei amar, dizem também que meu peito é oco. Eu discordo. Só eu sei o que tem aqui. Ninguém mais. Aqui dentro. Aqui ó, dentro do meu peito. Ninguém tem acesso, só eu.
Só eu sei o que eu sinto. Não preciso provar nada. Não quero ser uma pessoa boa. Não acredito em pessoas boas. Pessoas boas me assustam. Soam falsas, sei lá, dentro de todo mundo mora o mal. Não quero ser boazinha, não levo jeito pra madre e nunca gostei de escoteiros, só quero ser eu mesma, com as minhas árvores voando entre as nuvens, minhas dúvidas, medos, dores, gozos e tudo isso que chega dentro de uma bandeja pra escolhermos o que pegar.
Eu não sei onde vou chegar andando nessa estrada sinuosa e cheia de estilhaços de guerras sem fundamento. Eu só sei que não quero terminar como a minha professora.

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